Estou procurando uma forma de me reinventar
Até agora tudo o que eu construi para mim não serve para as necessidades do mundo
Dizem que o que importa são as minhas necessidades
Mas na prática o mundo é que nos rege
Então... Pára tudo!
A partir deste momento eu começo um processo de troca de pele
Já que mexer na alma demanda outros caminhos mais profundos
Que precisariam de muitas vidas para alcançar
A que me foi dada hoje tem pressa
E essa incompatibilidade com o entorno de mim cria uma urgência que preciso atender
Começo a reformular tudo o que pode parecer uma virtude para o céu
Serei mais um filho de Sodoma e Gomorra
Paro agora de correr no sentido contrário da multidão
E transfiguro-me como uma imagem que não mais incomoda os olhos
Mas é exatamente aquilo que a humanidade se acostumou a ter
Serei agora da superfície
A minha memória tem curta capacidade
E não armazenará nada além de momentos que logo serão substituídos pelo seguinte
Ouço agora o conselho dado por Bandeira e paro de querer comunicação com almas
O único diálogo que estabelecerei será com os corpos
E esses serão curtos, precisos, triviais
A profundidade será um segredo meu com o universo
Serei como todos os outros... Que buscam o nada e sempre em uma direção nova
Para não correr o risco de encontrar outra procura
O meu corpo hoje eu adapto à cobiça...
Serei mais um parceiro inseparável da luxúria
E que se fodam os contos de fada!
Quero dar trabalho ao entendimento de mim
Dissimular é algo que vai demandar muito ensaio
Mas desta vez o teatro vai invadir a vida
E eu serei apenas aquilo que for casual...
Descobri que para cativar, basta tão somente, não querer cativar
Bondade é uma coisa extinta...
Um passado que deve ficar trancado com a minha herança cristã
Afinal, aqui de nada me serve o paraíso
Aos poucos vou ficando pior para mim
E melhor para o mundo
Consequentemente posso chegar a uma "satisfação" terrena
Quando eu penso que ser melhor me impediu grandes conquistas
Eu me arrependo de ter perdido tanto tempo sem acreditar nessa reinvenção
Quero ser um outro para o mundo externo não por amargura, mas por constatação
O mundo só deseja aquilo que causa dor
Que sacaneia e que abandona...
Tudo o que não quer ser, e o que não oferece nada...
Cafajestei! Chegou a minha vez de sacanear com o mundo
Tudo bem... Existirão aqueles que se livrarão dessa minha nova fase
Mas até que me mostrem que são iguais aos demais pobres de espirito
Que desejam o pouco da vida e das relações...
Cheguei até aqui numa construção de mim equivocada
Mas todo trem desgovernado um hora sai do trilho
E como nunca conseguiria realmente apertar um gatilho
Começo um jornada para me reinventar
Transferindo para os outros a culpa de tudo
Um dia fiz aflorar a sensibilidade
Mas agora preciso substituir tudo pela maldade
Esta que serve ao mundo e que é a única que os homens buscam
Neste caminho incompreensível rumo à essa coisa que eles chamam de FELICIDADE