quarta-feira, 30 de novembro de 2011

PEQUENAS MÃOS

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Fui fazer uma nova visita ao mar
Ele estava revolto...
Como se algo tivesse tirado a calmaria que encanta
Tentei suavizá-lo com as minhas mãos
Pequenas mãos tentando tocar o intocável...
Modificar a imensidão
Os ventos eram o desabafo do mar




Que puxava com agressividade toda a areia
Como quem machuca a própria pele com suas unhas




E empurrava as ondas que traziam instabilidade aos meus passos




Naquele dia, eu era cúmplice do mar
Compreendia plenamente as suas contrações involuntárias
A inquestionável diferença entre as nossas naturezas
E as despretensiosas semelhanças entre nós dois




Queria ser como ele...




É que o mar é ancestral
Aprendeu a ir e vir, a se equilibrar, a invadir...
Eu sou recém chegado e não demoro muito a partir
Queria ser assim...




Uma porção de coisas pequenas que juntas formam algo tão sem controle




E mesmo isoladas não se pode de fato tocar




É mais para ser tocado... O mar é para ser sentido




Essa imensidão de água é a única coisa realmente livre




Não há quem consiga enfrentar sem medo




Gosto do temor que o mar impõe a todos




Ser tão desejado e ao mesmo ditar limites




Nunca tive tanta intimidade com o mar como agora




Esse é um encontro que demorou a acontecer




Talvez porque eu seja oriundo da terra




E sobre ela me sinto dominador




Mas o mar e eu temos em comum quem nos governe




A lua... É ela que nos rege




A lua é que altera tudo em nós...




O mar é dos mistérios o mais respeitado
Eu que não possuo mistério algum, vou tentando ober um respeito mínimo
Sei que não posso influenciar as águas que criam os mares

Conheço a fragilidade do meu corpo perante um mar inteiro
Mas ainda acredito que existe uma força aqui dentro




Que pode acalmar o que se revolta




Capaz de tranquilizar águas que nunca tiveram sossego
Há dentro de mim um domador de marés
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sábado, 26 de novembro de 2011

SERENA SERENATA

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Menina serena com olhar de estrelas
Teu corpo flutua suave sobre a dor
Carrega uma flor branca em teu peito
Nos olhos fechados o sonho profundo do amor

Como uma serenata que toca os ouvidos
Cantada como um pedido de vida ao luar
Da janela se sente suspiros contidos
Que o peito sereno não deixa soprar

As palavras de encanto que tanto esperas
São vozes noturnas te fazes dormir
Uma serenata de amor depois de aberta
Só encontra sentido se os sentidos sentir

Menina pequena, coração de serenata
Tua dor navegas até ancorar
A flor que levou contigo no peito
É rosa tão bela flutuando no mar...
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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

CRUALMA

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Sou essa carne crua
Que cheira à essência mais primitiva
Ainda que me fervam...
Que queimem os meus sentidos...
Permaneço cru, no meu estado mais humano
Enquanto todos se veem encobertos por falsas verdades
Invenções daquilo que gostariam de viver
Eu me mantenho nu e cru
Afinal, verdade que se veste é mentira
Crueza que se frita deixa de ser orgânica, visceral, epidérmica...
Eu sou cru e por vezes me pinto de crueldade
Mas essa pintura sim, eu crio, ao meu mais despótico sabor
Bom brincar de ser bandido
Embora ser mocinho é uma sina que não satisfaça a minha realidade
Às vezes confundem por tristeza o que não é...
Sou cru e a minha tristeza está muito abaixo disso
Enterrada numa camada dos meus olhos
Que somente profundos abalos sísmicos d`alma podem emergir à superfície
Eu venho tentando me aquecer e virar outra coisa
Mais adequada a todos os paladares...
Mas não tem sido fácil
Para me devorar somente os de estômago forte e digestão lenta
Sou carne viva, crua, com sangue ainda jorrando...
Coisa que a civilização não põe mais à mesa
Devora-me quem ainda sente a fome pura
Com caninos fortes e pontiagudos
Para quem se mantém com instinto de vida
Essa “crualma” que nunca vai se modificar.
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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

QUANDO A REALIDADE TROCA DE NOME

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Basta somente sentar a realidade em frente a um espelho
E adornar a sua desgastada aparência com um vestido florido
Colocar-lhe nos cabelos uma flor
Talvez um girassol grande e amarelo
Isso depois de escová-los com carícias e afagos
Em seu colo um colar de pérolas brancas
Na face um pouco de cor para suprimir a palidez
Basta realçar de beleza a realidade
E ela ganha novo nome...
Passa a se chamar POESIA.
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VOZES ANCESTRAIS

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Não consigo parar de pensar...
Devoro minhas unhas por não conseguir devorar cada pensamento
Sinto-me preso numa "esquisofrenia" que não me enlouquece
Mas tranquiliza a realidade
Ter o coração de poeta é ter alma assombrada
Ouvir vozes que pedem o tempo todo para ganhar escrita
E o pior são as nossas várias vozes falando ao mesmo tempo
Ininterruptamente fazendo apelos de liberdade
Que poucos olhos lerão com gentileza
Ou ouvirão com fraternidade
Por vezes essas vozes me despertam a noite
E não se aquietam enquanto eu não lhes dou espaço para ser
Ando pelas ruas e me ouço o tempo todo dizendo, por dentro, coisas que não sei de onde surgem
O mais estranho é saber que existem lugares em mim que nunca saberei chegar
Vozes ancestrais que são minhas, sempre foram... Perduraram até agora
Essa coisa que é tão minha sente necessidade de ser de todo mundo
Trago dentro de mim fantasmas que apelam por atenção
Existe nas coisas invisíveis que me movem
As vozes de todas as minhas pessoas que habitam em algum lugar da minha cabeça.

(EWERTTON NUNES)
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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

CORAÇÃO TRANQUILO COMO O AMANHECER

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Gosto quando o meu coração está assim...
Aconchegado entre as sensações mais leves que repousam dentro de mim
Gosto de sentir o meu sangue correndo sem pressa
Quase que valsando por minhas veias
Que agora são mais verdes ainda... Porque há mais vida circulando aqui
Eu gostaria que essa sensação de ausência permanecesse comigo
Sem surpresas que venham afugentá-las
A ideia de abandonar o que me faz mal é realmente renovadora
Quero ser preservado assim...
Não deixe que nada chegue para me retirar essa paz de amanhecer
O amor se torna ainda mais doce assim
O desejo de eternidade é uma ilusão que acreditamos ainda mais
Abdicar de si, se transformar no mais belo abandono que possamos fazer
Passamos a ser uma oferenda jogada ao mar
Esperando mais graças para o nosso caminho
Como é bom sentir a cadência mais tranquila do nosso coração
Na verdade, o simples fato de ouvir o coração já vale tudo
Eu havia esquecido como era a sua voz
Mas agora que me tornei uma morada mais tranquila para ele
Ouço o reverberar das canções apaixonadas que cantarola por todo o dia
Agora é hora de acariciá-lo com as melhores lembranças que trago hoje
Para que adormeça sereno... Em sono tranquilo de liberdades
Cuida do meu coração, não deixe que nada o incomode
Afinal,ele agora adormece pensando em você.
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sábado, 12 de novembro de 2011

OS LIMITES DO MUNDO... OS LIMITES DE NÓS

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Quando um homem viaja descobre as
reais proporções do seu corpo

É preciso ir longe para se ter a
dimensão da capacidade real das
nossas pernas

Sair pelo mundo é ter a possibilidade
de entender os nossos limites

Limites que estão dentro e fora de
nós

Estar no mundo não significa
necessariamente pertencer a esse
mundo

É preciso ter avidez, fome de
descobertas, ânsia de viver para
devorar algo tão grande assim...

Quando vamos por aí, percebemos o
quanto o homem andou e o mundo
permaneceu em seu lugar

Entre paisagens humanas e naturais
vamos vendo o melhor e o pior da
natureza

Aquela que adorna o entorno de nós
e fascina pela sublime ideia de Deus...

A que habita em todo o ser
humano, independente da língua,
credo ou cultura...

Essa, ainda que se passem os anos,
nos causa assombro

Desacreditando que exista a
presença divina na essência dos
homens

De tudo, monumentos à memória do
que se foi...

Para tudo, a perspectiva do que virá

Gira o mundo e nós giramos juntos

Procurando trazer a imensidão desse
universo

Nessa captura tão fugaz e singela do
nosso olhar...

(EWERTTON NUNES)
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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

ANDANÇA MUDA - MUDANÇA

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Nenhuma mudança acontece somente fora de nós
A vida é que define a hora de mudar...
Eu lembro dos caminhões nos levando de uma vida para outra
Mesmo quando criança tinha a intuição de que nada seria igual
Recomeçar quando a vida está no início é sempre bom
Afinal, tudo o que nasce em um novo lugar é deslumbramento
Hoje, mudar traz uma sensação muito mais crônica
Os caminhões pouco dizem sobre o destino
Mudança pode ser apenas uma andança muda
A busca por uma nova voz que substitua a que não nos serve tanto
Lembro da vez que mudamos após um incendio
Minhas irmãs, ainda pequenas, puseram fogo na casa onde morávamos
Foi o medo delas que nos fez partir...
Às vezes mudanças também nascem de urgências
Dos riscos que corremos ao permanecer no lugar
Mudar é uma violência necessária à evolução
Ainda que essa mudança aconteça inteiramente dentro de nós
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sábado, 5 de novembro de 2011

KATHAZRINA - A ARQUITETA DOS SONHOS

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-O tempo está passando para mim... Essa caverna escura parece não ter saídas. Tenho a sensação que estou nela há dias. Sei que me foi dito que não posso transitar na cidade dos sonhos, até que tudo esteja em equilíbrio... Mas eu sinto que ficar aqui parado é ainda pior, e a minha intuição costuma me levar à verdade de tudo. Eu percebo agora que ter olhos não nos impede a cegueira, não enxergar é mais um estado da alma.




Nesse instante em que falava comigo em pensamentos, a "Agatha", pedra que herdei do grande "Capricórnio Dourado" começou a brilhar. Era como se ela quisesse me mostrar alguma coisa que eu não enxergava naquela total falta de luz... Uma imagem aparecia nela, uma espécie de olho gato me atraia, e eu enconstei a face para olhar mais de perto... Por entre a pedra, a escuridão não existia, eu podia ver a caverna como se a luz do sol adentrasse plenamente o seu interior... Resolvi, então, seguir a minha intuição e encontrar uma saída daquele lugar. Com a "Ágatha" assumindo a função da minha visão, andei por horas. Tinha no peito uma sensação angustiante... Uma premonição de que algo podia estar muito errado, era como se logo mais, eu fosse ter uma suspresa que me traria imensa tristeza.





Eu sabia que um "menino-gente" como eu, não poderia passar tanto tempo na cidade dos sonhos... Que minha presença poderia trazer muita desordem e caos a tudo. Ainda mais que o meu ingresso, desta vez, não se deu de forma tranquila, foi o pesadelo que me fez chegar aqui. Eu precisava voltar para o meu mundo, mas eu sabia que abandonar algo que se ama, sem ter certeza que isso é o mais seguro, pode acarretar numa viagem sem retorno. Eu precisaria ter certeza de que poderia voltar a sonhar, afinal, eu estava crescendo e logo os piores sentimentos do mundo seriam evidentes em mim. Crescer é se contaminar do bem e do mau, e na cidade dos sonhos não há acesso o que é predominantemente feito de maldade.




Eu comecei a ouvir algo passando de forma rápida por cima de mim, tentei visualizar, mas não deu tempo. Seja lá o que aquilo fosse, passava rápido pelas paredes, eu ouvia um ruído que me trazia muitas dúvidas, não podia identificar ao certo do que se tratava. E não há nada mais assustador do que a dúvida no escuro. Alias a dúvida é irmã da escuridão e as suas juntas são curéis para uma alma que não gosta de ter medo. Quando senti um vulto passar atrás de mim, virei abruptamente e ele estava lá... Um grande escorpião, com cor avermelhada e passos lentos. Ele vinha em minha direção e eu recuava com muito medo. O meu medo fez a pedra "Ágatha" se transformar num gato branco que saltou do meu pescoço em minha defesa...




- Calma, menino-gente! - A voz daquele escorpião vinha sem som, era como se ele dominasse os meus pensamentos.



- Você sabe quem eu sou?



- Claro que eu sei... Todo mundo na cidade dos sonhos sabe. Fui eu que criei o seu pesadelo. Eu consigo sentir o seu coração, ainda que esteja no seu mundo de gente. E senti que você tem muitas dúvidas dentro de você... Dormir com dúvidas é deixar a porta aberta para os pesadelos entrarem.



- Eu não queria sentir isso...



- Eu sei, ninguém escolhe a dúvida, ela é implantada. Mas fique tranquilo, eu te trouxe aqui para que você retire-a de dentro de você. Pode recolher o seu gato.


Quando eu confiei na palavra dele, o gato voltou ao meu pescoço e se transformou novamente na "Ágatha". E eu logo quis saber:



- Como você pode fazer isso?



- Eu posso te picar, e logo não haverá mais nada que incomode o seu coração. Eu te farei esquecer o que te aflige.



- Mas esquecer não garante que a dúvida ainda não esteja lá, não é mesmo?



- Não garante, mas ameniza... E tem a vantagem de que eu te mandarei de volta para o seu mundo, num sono tranquilo.



- Não quero esquecer o que me aflige, eu quero respostas. Somente a verdade acaba com a dúvida.



- E qual a verdade que você quer?



- Depois que eu crescer, poderei voltar a cidade dos sonhos?



- Sonhar não é tão simples como se pensa... Ainda mais para quem cresce...



- Qual a resposta?



- Seria preciso que construísse uma morada segura nos sonhos, onde nenhum sentimento ruim tivesse voz, com paredes impenetráveis... Mas essa casa tem que ser erguida ainda com o coração puro.



- E como eu posso construir?

- Para quê ficar por aqui? Você não pode abandonar a sua natureza de gente...

- Um escorpião pode abandonar a sua natureza de escorpião?

- Natureza é natureza...

- Se é natureza, então, é adaptável.

- Escuta, menino-gente... Eu posso te encaminhar para alguém que vai te ajudar a construir o que precisa, porém, tem que confiar em mim. Você confia? Terei que picar você e o meu veneno te levará a outro estágio do sono, lá estará quem pode te ajudar.

- Você seria capaz de me machucar?

- Não há mudança sem dor, menino.

- Eu vou entregar meu coração e acreditar em você... Mesmo que eu esteja sendo engando, saberei que a minha parte eu fiz.

A mim só restava confiar... Eu ainda depositava crenças na natureza das criaturas, apesar de muitas vezes perceber que as criaturas não acreditam em suas próprias naturezas. Eu pensava que aquele escorpião entenderia a importância das minhas dúvidas e que respeitaria o meu desejo de permacer sonhando, ainda que o tempo tentasse destruir essa possibilidade. Fechei os olhos, ele aproximou de mim o seu ferrão e disse:




- A dose total do meu veneno poderia te levar para uma dimensão sem retorno, um lugar que o sonho é a ilusão do próprio sonho. Mas eu vou colocar no seu pequeno corpo uma pequena fração do meu veneno... O suficiente para que o seu insconsciente não sofra danos nessa transição de universos paralelos. Você não pode estar de olhos abertos quando estiver fazendo a sua passagem. O que vou depositar no seu sangue retirará a sua curiosidade humana, os seus pensamentos serão suspensos por alguns "segundos-horas". Te levarei a um estágio onde sonho e pesadelo encontram o equilíbrio fundamental para quem quer fixar algo no infinito. Preparado?


- Eu nunca estarei preparado... Mas pode fazer o que é preciso.


Nesse instante eu fechei os olhos e senti uma picada no centro da minha cabeça. A última sensação que tive, foi a do meu corpo caindo sobre aquele escorpião.


(VAZIO)


Quando recobrei a consciência estava no meio do mar, mas era um mar de águas brancas. Eu flutuava nas costas do escorpião, tinha o corpo molhado e a sensação de ter dormido por horas sem interrupção.


- Eu não sabia que escorpiões resistiam a àgua.


- Esse é o nosso elemento maior. Eu preciso que você saiba de uma coisa... A partir do momento que piquei você, passou a circular em suas veias o ciúme, ainda em doses mínimas. O crescimento desse mau que depositei em você, vai depender da capacidade de domínio do seu olhar... Se o ciúme se tornar maior do que a sua capacidade de amar, tudo na cidade dos sonhos se fechará para você. Um sentimento como esse, infiltrado no corpo de um "menino-gente", pode inclusive fazer toda a 2cidade dos sonhos" desaparecer.


- Por que não me disse isso antes?


- Eu não posso revelar todas as minhas limitações, infelizmente, o bem que eu possa fazer sempre virá com um pequeno mal aprisionado nele. Eu fui enviado por Apolo para matar Órion, por ciúmes da relação deste com sua irmã Ártemis. Por isso, o ciúme ainda hoje afasta as estrelas do céu, talvez, você que partilha agora comigo desse sentimento, consiga o perdão das constelações para mim.


- Não sei como cativar estrelas, mas o farei quando o céu se aproximar de mim.


- Na praia encontrará as respostas que precisa. Eu tenho que voltar para a escuridão.


E assim voltou para as profundezas daquele mar branco. E eu percebi que aquela água tinha a superfície tão rija que era possível andar sobre ela, uma película branca que me lembrava nata de leite. Ela suportava o meu peso, assim, fui até a praia. Tudo era alvo: as árvores, o horizontes, a luz que surgia por entre as nuvens... Logo vi passar um pequeno homem branco, carregando uma pedra de tamanho irreal para as medidas do seu corpo.


- Com licença...


- Colecionador de pedras, é isso que sou. Você deve ser o menino com olhos de poema, acertei?


- É o que dizem... Como sabe?


- Pela pedra que tens no pescoço. A "Ágatha" só poderia ser entregue a ele. Todos sabem disso.


- Todos sabem? Como pode ser?


- A cidade dos sonhos não é como a vida no seu mundo, as coisas que acontecem por aqui já foram escritas. Apesar de vocês "homens-gente" acreditarem no destino, não há livro onde se possa ler o que já foi traçado. Aqui na dimensão do sonho, tudo o que vai acontecer já está preso no "Livro Maior".


- Quer dizer que se eu tiver acesso a esse "livro Maior", poderei saber se permanecerei por aqui quando crescer?


- Possivelmente. Mas o acesso ao livro só é permitido a quem tem morada definitiva nos sonhos.


- É por isso que estou aqui, preciso encontrar uma forma de construir essa morada.


- Procure Kathazrina, "Arquiteta dos Sonhos"... É ela quem transformar pedras em "sonho-realidade".


- Onde a encontro?


- Siga a praia... Vai encontrar. Kathazrina adora o mar, tanto que construiu o seu mundo particular à margem das águas.


- Antes que eu prossiga, posso fazer uma pergunta?


- Sim.


- Como consegue levar uma pedra tão pesada como se ela fosse feita de ar?


- A gente aprende a dominar o peso das coisas, menino. De tanto carregar pesares, aquilo que parece impossível se transforma... Tá vendo essa pequena pedra? Segure-a.


Eu a segurei. A pedra que cabia na palma da minha mão, me fez tombar, como se tivesse dezenas de quilos. O "Colecionador de Pedras" retirou-a de mim antes que ela me esmagasse os dedos, ele sorria da minha fraqueza.


- Desculpa o meu riso, é que acho engraçado a fraqueza, pensei que sendo "homem-gente" fosse mais forte. Percebe? Peso é tão relativo quanto a forma. Eu comecei carregando pequenas pedras e as achava impossíveis... Hoje me encantam as coisas mais duras, as mais pesadas... Elas fazem uma pequena pedra ser insignificante. Apresse-se! Se o sol se esconder não encontrará mais a "Arquiteta dos Sonhos" à margem da praia.


Precipitei-me à partir.


- Só mais uma coisa... Saiba que o mar lapida as pedras, e o mar é feito de água apenas... Use a sabedoria do mar se quiser transformar as pedras. Sabe o motivo de eu colecioná-las? As pedras sabem mais sobre o tempo, sobre a resistência... Cada pedra tem um segredo a revelar, elas resistem ao tempo físico, ao tempo imaterial, ao tempo fantasia... Eu quero aprender com as pedras o segredo para fazer as coisas durarem para sempre.


E assim colocou sobre os ombros a sua enorme pedra e partiu. Eu prossegui ao longo da praia branca. Parecia difícil encontrar naquela paisagem de ausência, algum contraste que me desse indício de estar diante do que eu procurava. O meu pensamento estava totalmente errado. Ao longe eu via vultos coloridos que me lembravam a aurora boreal, quando me aproximei, percebi que o fenômeno de rara beleza era outro. Não era a aurora e sim a aura de uma bela mulher, que se desprendia do corpo enquanto ela dançava feliz na areia branca. Os movimentos que realizava esculpiam desenhos no espaço, era como se conseguisse reger as cores. Ela ia construindo matéria com as colorações luminosas que emanava, e em pouco tempo onde não havia nada, ela fez emergir uma torre. Eu não me contive e aplaudi o monumento que se ergueu do invisível.


- Obrigada.


Disse com uma voz meiga, tão doce que mais parecia vir de uma menina da minha idade... Mas eu via que aquela beleza, feita de cores que não foram descobertas ainda, era de uma mulher. Eu não podia conter o deslumbramento diante de uma essência tão completa e inacreditável.


- Desculpa... Eu não gosto de interromper a espontaneidade de ninguém.


- Não se preocupe, o mar impede qua a minha inspiração se esgote. E o que eu estou construindo agora é para apreciar o por-do-sol. Do alto é ainda mais emocionante se despedir do dia.


Eu fiquei mudo. Havia algo na aura dela que era muito intimidador, era como se olhando para ela, eu me visse refletido num espelho. Ela era eu fora de mim, só que muito mais colorido. Percebendo a minha falta de jeito, perguntou:


- O que procura?


- Você. É a "Arquiteta dos Sonhos", não é?


- Prefiro que me chame pelo nome, Kathazrina e não pelo que faço. O que faço é consequência do que sou e o que sou independe...


- Eu sou...


- Eu sei quem você é. A gente reconhece os amigos, não é assim que dizem os que sentem poesia?


- Isso.


- Não pensei que fosse te ver tão cedo.


- É que as minhas inquietações chegaram muito rápido, tenho uma alma precoce... Desde que comecei a reconhecer o mundo que não paro um segundo de querer respostas.


- E que resposta eu posso te dar?


- Não quero que me dê... Quero que construa. Preciso permanecer na cidade dos sonhos, ainda que o tempo passe. Estou crescendo e longe daqui, talvez, eu não consiga sobreviver.


- Eu entendo a sua aflição, consigo captar as cores das suas várias dúvidas. Mas não se constrói casa segura em lugar algum, mesmo nos sonhos, sobre dúvidas. O seu alicerce deve ser outro.


- Você pode construir para mim?


- Posso. Farei isso com uma satisfação sem preço, porém, só posso construir quando você encontrar todos os materias que precisa para que a sua morada se erga. Eles devem ser trazidos por você.


- Eu não entendo...


- Você só traz aí dentro o desejo, a dúvida e eu vejo até um ciúme com potencial destrutivo. Não são o suficiente... Sei que existe muito amor e poesia aí também, mas preciso que os materialize, que os transforme em pedras. E as pedras eu transformarei em sonhos, no seu maior sonho.


- E como posso fazer isso?


- A "Ágatha" que traz no seu peito já é a materialização da coragem. Eu poderia construir com essa coragem as portas da sua casa, mas e o resto? Aproveite que tem a coragem aí no peito e siga em busca das outras pedras. Saia em busca de substituir tudo o que trouxe aí dentro e não serve, pelas coisas que realmente importam.


Com um movimento de mão, ela fez surgir uma pedra branca.


- Toma... Essa pedra é a minha colaboração nessa construção, te dou como presente. "O coração de Paloma", é a pedra que vai manter a paz sempre ao seu alcance. Com as duas pedras que agora tem: a coragem e a paz, tenho certeza que logo me trará pronta a sua permanência na dimensão dos sonhos.


- E se eu não conseguir?


- Viu quanta dúvida existe em sua alma? Apenas vá... Vá... (PAUSA) O sol está indo embora, e eu preciso me despedir dele e partir. Você acha que o sol tem dúvidas?


- Acho que não, se as tivesse ele não voltaria no dia seguinte.



- Então... Apenas vá... A praia é sempre a melhor forma de encontrar as respostas.


E assim, subiu na torre. Eu prossegui olhando os meus passos se firmarem na areia. Mesmo distante ainda avistava a Torre erguida pela "Arquiteta dos Sonhos"... Ela estava debruçada lá em cima, apreciando o sol partir. Kathazrina era um ponto de vida no meio de uma imensidão sem cor.






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Uma homenagem singela à minha CATARINA ANDRADE. Mulher linda, no sentido mais completo que a beleza possui. Sei o quando a praia possui poesia para você, por isso, o seu lugar na minha poesia não poderia ser outro. BJO!!!!!!!!!!























































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DOMADOR DE TEMPESTADES

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Sinto que o tempo vai mudar...
Essa sensação de chuva que o vento traz, não consegue enganar os sensíveis
Mas sinto nesse sopro que me toca a pele, um frescor de chegada
Talvez o retorno da minha alegria...
Estou precisando dos conselhos da chuva
Que sempre me fez tão bem ao cair...
Dentro de horas o céu vai abrir, eu sinto isso...
Sinto com o completo de mim
Com o avesso da carne, com o sangue...
Vai abrir ainda que chegue o dilúvio
E vai ser bom estar num espaço onde só caibam dois
Ilhados em beijos, afagos, carícias de saudade
Renovados de certezas e esquecidos do que passou...
Eu sinto que o tempo fora de mim será fechado
Enquanto eu começo a me abrir para o que há de chegar logo
Há quatorze dias que chove sem parar dentro de mim
É tempo de sol... De clarear o quarto com a luz que vem do espirito
É tempo de dominar as tempestades.
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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A SAUDADE QUE CAI DE CIMA...

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Ewertton Nunes
Saudade vem como a chuva
De repente chega e pode durar dias...
Os pensamentos mais quentes se escondem no mais alto dos olhos
Por detrás da retina, deixando nublado o nosso olhar...
As nuvens que se formam no alto das nossas memórias
... Ficam carregadas de tantas sensações que o corpo não controla
É dificil enxergar a estrada em dias de saudade
O mais seguro é esperar e deixar que caiam as lágrimas
Para que temporariamente o sol venha tímido
Ainda que a garoa seja sinal de que ainda há muita saudade lá em cima para cair
O melhor é se manter atento às mudanças do tempo que cobre as emoções
A saudade vem como a chuva
Mas quem disse que eu não quero me molhar?
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Um toque de saudade em uma pele que precisa ser abrasada
É a única coisa que pode nos fazer acreditar em tempos melhores.
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GERMINA...

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Estou com receio de que o meu coração saia pela boca
De tão pequeno e comprimido que está...
Os dias não tem deixado nenhum órgão evoluir
Sinto a falta de espaço dentro de mim para que o meu coração possa crescer...
Sem violências desnecessárias, sem arritmias inoportunas...
... Essa minha frágil semente de amor precisa apenas de você
Únicamente da água límpida que corre do teu corpo para o meu
Da entrega despida de dúvidas...
O meu coração depende da sua luz para germinar.
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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

UMA CARTA- Destino: Cracóvia/Polônia

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Pensa que acabaram as declarações?
Nada disso. Em se tratando de você o que não me faltam são coisas para escrever...
Eu tenho lembrado a primeira vez que nos encontramos, ja pressentia que te amaria muito, que você seria uma parte marcante da minha vida.
Eu tive receio de te amar... Porque eu tinha medo de sentir as coisas crônicas que surgem com o amor.
Depois de você eu esqueci o entorno de mim!
Você passou a ser o unico, a minha paixão, o meu ciúme, a minha calma. a minha alegria... O domador dos meus sentimentos.
Sempre me fez mal pensar que você poderia destinar o seu corpo, os seus beijos, as suas juras de felicidade para alguém
mas hoje eu sei o quanto eu ainda sou imaturo... Eu tenho vc comigo, ainda que nesse momento esteja tão distante. E isso, por si, já deve ser a minha felicidade.
É que eu te queria sempre mais meu, cada dia ainda mais meu, quem sabe um dia você deseje isso de mim também...
Eu seria o sonhador mais feliz do mundo!
Eu decidi que quero fazer da minha vida ainda mais leve... Da sua vida comigo ainda mais leve... Do nosso encontro nessa vida ainda mais leve... Eu quero flutuar contigo!
Do seu lado já se chegaram os cinquenta anos, mas eu quero fazer que sinta a presença dos vinte anos, todos os dias. Num retrocesso de tempo que ameniza semblantes e revigora os dias... Uma rejuvenescida nos afetos.
Eu preciso de você para que isso se torne a mais sólida realidade... Desejo-te tanta coisa boa que passaria a noite escrevendo, que passaria de carne a vácuo formulando pensamentos...
Faço um pedido antes de encerrar essa carta:
Não jogue fora todas essas minhas palavras... Guarde-as sempre num cantinho arejado da sua memória, ou quem sabe ainda, na varanda do seu coração... Para que vez por outra, possa abrir a cortina e apreciar a brisa suave que sai delas...
Espero que a dimensao do seu amor por mim ainda seja palpável, pois a minha não consigo segurar com as mãos.
Aguardo-te ansioso.
Te amo!

Aracaju, 03 de Novembro de 2011
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CINQUENTA ANOS

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O que são os cinquenta anos?
Qual a sensação que se deve ter quando se chega nessa etapa da existência?
O que vale mais? Correr ávido por uma vivência que nos traga a sensação de aproveitar o tempo que nos resta... Ou construir terrenos estáveis que nos possibilitem os passos lentos?
Quando se chega aos cinquenta anos, já é possível saber o que vale a pena?
Já entendemos o suficiente sobre as pessoas?
E sobre o amor, já temos resposta de como ele deve ser?
Quando temos cinquenta anos administramos melhor as perdas?
Ou ainda cavamos com nossas mãos amadurecidas os nossos próprios fracassos?
O que são esses cinquenta anos que chegam?
Será que de todos os anos que vivi tenho cinquenta lições para conduzir o resto da vida?
O que é imprescindível "ser e ter" quando se completa 50 anos?
Se chegar aos cinquenta anos é uma ladeira acima, a partir dele se segue para baixo?
E quantos estarão dispostos a estar comigo nessa nova inclinação do percurso?
Será que eu aprendi a assumir todos os meus erros?
Será que tentei desfazer todas as injustiças que cometi?
Os cinquenta anos me fizeram um ser humano mais coerente?
Ou continuo eu acreditando na eternidade e zombando do tempo?
Brinco de viver como uma criança que acabou de ganhar a vida?
O que eu devo parar de fazer e o que eu nunca posso deixar de realizar?
Cinquenta anos...
Será que já aprendi os limites do meu corpo?
E a administrar os anseios da carne?
Já sei o caminho de acesso à minha alma?
Ou ela ainda me rege como se fosse uma força superior a mim?
Ah, esses tantos anos de vida...
Com quais conhecimentos adquiridos, construirei o meu tempo, daqui até o último grão de areia?
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terça-feira, 1 de novembro de 2011

MISSIONÁRIO DOS SONHOS

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E eu que tenho passos curtos
E braços com circunferência limitada, fico a vislumbrar utopias...
Eu que sei do pouco que posso dentro desse muito que anseio
Crio minhas viagens por lugares inventados
Vago por aí parado dentro de mim...
Porque aqui dentro eu danço, eu me desloco pelo mundo
Falo e a minha voz é escutada mesmo que eu não possa mais ver a sua direção
E eu que acredito que tudo o que há em todas as partes eu já vi
Talvez em muitas vidas anteriores a essa eu pudesse voar
Por isso tenho essa velhice boa que me antecipa tudo...
E eu que vivo para ilustrar a fantasia, faço-me invisível em tempo presente
Ocupando assim, no fechar dos meus olhos, as possibilidades que não se alcança sem poder
E eu que sou dos sonhos missionário, percorro o infinito sem me mover...
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UMA PONTE ENTRE NÓS DOIS

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Essa manhã uma voz distante me falou de duas cidades que um dia foram separadas por um rio
E uma ponte unificou o que antes tinha limites para ser...
Assim também são os homens, se desenvolvem isoladamente...
Constroem a sua história individual à margem desse rio que é a vida
E um belo dia surge essa ponte chamada amor
Que erguida lentamente, às vezes, faz um nome se mesclar em outro, uma alma se dissolver noutra, dois corpos parecerem um só
Duas vidas juntas formam uma história muito mais bonita
Quando duas cidades com passados ricos são fundidas
O que tinha beleza passa a ser sublime
Aquilo que era história, passa a ser lenda...
Por isso precisamos aprender com as cidades, os rios e as pontes...
Que assim como as fusões dos sentimentos transfiguram todo isolamento
Quando os homens entendem o valor das pontes
A existência mostra que uma simples construção pode modificar o rumo de toda a humanidade.
...........................................................................................
Não sejamos nunca cidades à margem de um rio
Olhando de longe a possibilidade de ser maior e melhor
Vamos construir pontes e acreditar nos casamentos
Sermos nome e sobrenome... Juntos nos fazermos mais universais.
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