domingo, 16 de janeiro de 2011

CRIAÇÃO

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Ainda há pouco sentado na privada de frente para o piso branco da parede do banheiro, eu observava uma formiga fazer uma trajetória solitária e interferia com a ponta do dedo o seu caminho... E mais uma vez pensava sobre a criação das coisas e a nossa interferência nessa condição não definida por nós.
Se nascesse uma estrela para cada pensamento meu sobre as coisas incompreensíveis da vida, eu já teria um céu infinitamente maior do que o de Deus. Pensar sobre a criação é refletir sobre dois universos com dimensões extremas, um “macrocósmico” e outro “microcósmico” um que diz respeito ao universo que Deus colocou fora da gente e outro que ele empurrou goela abaixo para dentro de nós. O que é exterior a nós é tão imutável e distante do nosso inexistente poder, que nunca conseguiremos interferir e modificar minimamente, nessa verdade eu já encontrei conformação. O que me angustia é perceber que o meu universo “microcósmico”, tão importante e vital para a minha resistência aqui no “mundo de gente”, não é tão meu e que até mesmo as minhas criações mais depreciáveis podem ser uma brincadeira de mau gosto não criada por mim.
Eu olho esta formiga perdida na parede e percebo que Deus deve fazer comigo o mesmo que agora faço com ela, esta formiga está em minhas mãos, optar sobre a vida ou a morte dela agora é uma decisão minha... É como se houvesse sempre algo maior a nós que nos retirasse o domínio dos nossos próprios destinos e escolhas. E eu me sinto como essa pequena criatura nas mãos de um criador que não foi criado por mim e nem se criou a si... Mas é como se agora eu entendesse mais ou menos como se processa a criação das coisas, ou seja, toda criação é coercitiva, fruto de imposições de um invisível que nunca teremos controle algum. As nossas escolhas nunca serão nossas, pois, emergem que uma esfera muito maior que nos envolve e nunca conseguiremos abarcar, ela é que nos abarca.
Aqui de frente para esta formiga eu entendo o porquê de nunca pensarmos sobre o sentimento das outras criaturas... Eu nunca antes me questionei o motivo de uma formiga está dentro de um banheiro, como ela veio parar aqui? Por que justamente em um banheiro? Por que exatamente neste banheiro? Por que o destino desta pequena formiga se cruza com o meu? Será que ela me vê também como um ser insignificante sem propósito ou razão de existir? E será que me esmagaria com os dedos se assim pudesse fazê-lo? Eu não tenho e nunca terei nenhuma resposta para isso... Mas penso que para todo ser existe um predador maior que pode decidir sobre o fim ou não de tudo e isso me faz sentir ainda menor do que já me sinto.
Então existe um dedo de Deus no meu destino, arbitrando as escolhas que penso serem minhas, não sei se ele está sentado numa privada enquanto faz isso... Se enquanto expele as suas podridões, os devaneios vão emergindo e assim ele vai brincando comigo, desviando o meu caminho, provocando os meus medos, alimentando as minhas esperanças, criando os meus fantasmas... Da mesma forma insensata que eu faço quando brinco com essa formiga solitária no piso branco da parede. Ela está levando o caminho dela a sério, quem o banaliza sou eu aqui de cima... A única certeza que tenho é que a gente não pensa sobre o destino de outros porque a gente não sabe nada sobre o nosso próprio destino e é mais fácil matar o que não entendemos do que destinar um olhar novo sobre o que nunca enxergamos de fato. Dessa vez eu deixei a formiga seguir o seu destino e não a esmaguei com a ponta dos meus dedos como fiz em vários momentos da minha curta jornada, eu pensei que Deus pode ter feito a mesma escolha com relação a mim.

3 comentários:

  1. Sempre pensei + ou - assim... ate já te falei sobre isso... sempre nos imagino como no filme homens de preto... tenho certeza que somos pequenos seres presos em um armário. Nós achamos tão superiores mas na verdade não somos nada, na verdade somos menores que essa formiga... pq essa formiga sabe da nossa existencia assim, ela sente e sabe se salvar... e nós? do que sabemos? do que podemos ter certeza? Tem gente que nem em Deus acredita? E os que acreditam... pq acreditam? Por causa de um livro antigo? E os que sentem? será que realmente sentem ou que são apenas loucos... São tantas Duvidas... tantas complicações... tantas incertezas que eu com certeza preferia ser a formiguinha no azulejo branco. =~/

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  2. No final somos isso... Pequenos seres no lugar errado numa situação irreal. O problema da filosofia é nos fazer ficar ainda mais desbaratinados neste azulejo que chamamos de vida. rsrsr

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  3. Nossa... eu ja desisti de me fazer esse tipo de perguntas senão eu não ia viver e aproveitar as coisas. Acredito que viemos ao mundo por algum motivo, para uma "missão" como algumas pessoas dizem, não acredito é nesse livre árbitrio, pois a sociedade não nos deixa fazer tudo que queremos, somos tachados por uma coisa e por outra.

    Super legal o texto Vevé só não precisava ter citado onde você estava quando escreveu neh...hahahhahah...

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