terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O HOMEM DE LATA

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- Deixa eu ficar quando esta noite acabar...



- Ainda há mistérios na cidade dos sonhos que você não pode conhecer...





- Eu não gosto de acordar todo dia para o meu mundo de gente Falcão Dourado, grande pássaro dos sonhos.





- Eu já violei demais as leis deste lugar imaginário, se quer mesmo ficar, terá que abrir mão dos teus olhos. Ainda não é o tempo de ver aquilo que temos de mais precioso.





- Eu faria qualquer coisa para permanecer aqui.



- Qualquer coisa? É preciso ter cuidado com o que desejamos. Lembre-se somos donos apenas do nosso desejar mas não dos nossos desejos!



O Falcão dourado bateu as suas asas e delas saiu uma nuvem cintilante de paz que envolveu todo o corpo do menino-gente e o fez flutuar... A nuvem era agora a projeção da sua mãe... Ela o embalava no colo e assim ele adormeceu.



Foi a primeira vez que ele não retornou para casa... Aquele seria o seu primeiro despertar na cidade onde tudo o que nos inunda de noite ganha a dimensão da nossa fantasia.


- Menino! Menino-gente!




- Quem está aí?


- Sou um HOMEM DE LATA


- O que acontece com os meus olhos? Por que não consigo enxergar?


- Eu vi quando o grande pássaro dos sonhos engoliu os seus olhos. Acho que ele fez isso para que você não ficasse cego com as coisas incompreensíveis deste mundo... É preciso tempo certo para enxergá-las.


- Como então posso eu existir sem ver?


- Pior seria viver sem amar.


- Do que está falando... Eu trocaria os meus olhos por um coração.


- Mas como poderia amar sem enxergar o objeto do seu amor?


- Eu não sei... Pensei que você pudesse me ajudar. Dizem que no seu mundo todos os homens tem coração.


- É verdade todos possuem um coração, mas poucos sabem para que serve um.


- O que recebi em OZ nada mais era do que uma ilusão e logo foi dilacerado.


- Realmente ilusões levam pouco tempo para desaparecer. Quer dizer então que foi a desilusão que o despedaçou?


- O que aconteceu foi apenas uma falta de cuidado... Eu tive um coração e nunca soube como usar... Disseram-me muitas coisas sobre o manuseio dele, falaram-me que o amor ajudaria a deixá-lo sempre belo e vívido... Mas eu nunca entendi ao certo o que era isso. Responda-me você o que é esse tal de amor.


- Eu sou muito pequeno para dizer qualquer coisa sobre esse sentimento tão antigo... Mas penso que amar seja algo como o desejo de querer sonhar todos os dias. Como se fosse preciso abrir mão dos olhos e enxergar com o restante do corpo, algo como o que sinto agora... Eu não consigo te ver, mas posso tocar a sua lataria e perceber que existe algo aí dentro que não precisa pulsar para mostrar que é grande, entende?


- Entendo... Eu passei muito tempo procurando a beleza das coisas, das criaturas... Acreditando que o belo reconstruiria o meu coração. Agora vejo que o problema está justamente em não enxergar da maneira correta tudo o que existe.


O menino-gente tateia o corpo do Homem de lata, começa a bater suavemente em seu peito e ouve um som oco. O abraça fortemente.


- Existe muito espaço aí dentro... Ainda está vazio. Algumas pessoas trocariam um coração por um rim, pois esse tem filtro e conseguiria eliminar o que não é bom. Mas se quer construir um coração, imagino que o primeiro passo seria não filtrar nada. Deixar ser inundado até que o amor possa transbordar por entre os seus olhos... Não é um coração que nos ensina a amar, são os acúmulos que deixamos transitar livres dentro de nós que constroem a nossa sensibilidade...


Neste momento eu pude sentir a carcaça fria daquele homem de lata se encher de calor, como se por dentro algo tivesse sido aquecido. E algo começou a reverberar... Com uma pulsação tímida, porém, marcante.


- Os boatos sobre o sábio menino-gente com olhos de poema eram verdade... Eu agora sinto algo voltando a ter movimento aqui em meu peito... Ao menos o caminho não é tão longo quanto eu supunha...





- Os corações do meu mundo não serviriam para você. Eles se machucam e dificilmente se abrem depois de uma queda dolorosa. Há ainda os corações que não querem mesmo apreciar os melhores sentimentos do mundo. Eu acho que você tem um coração, sempre teve, precisa apenas fazê-lo perceber que ainda está vivo.


E sem dizer mais nenhuma palavra, eu pude ouvir os seus passos se distanciarem de mim. O ranger do seu corpo de lata ia ficando cada vez mais distante... E logo eu estava de novo em silêncio. Extasiado com a certeza de que ter olhos é irrelevante quando se enxerga tão claramente com o coração.



POEMA DEDICADO A ANDRÉ BONFIM. CADA UM COM A SUA PROCURA... ACHO QUE A SUA NÃO ESTÁ EM OZ E MUITO MENOS NA CIDADE DOS SONHOS.





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3 comentários:

  1. "Algumas pessoas trocariam um coração por um rim, pois esse tem filtro e conseguiria eliminar o que não é bom." Quem faria essa loucura?
    Hahahahaha!!!

    Muito bom!!!! Bem a cara do meu vazio amor (André)
    =***

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  2. Então... Eu conheci uma certa MULHER DE MENTIRINHA que trocaria e ainda dava as amídala de brinde heheh

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  3. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!!!!!!!

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