ENSAIO PARA UM ADEUS...
Hoje sinto a necessidade de
dizer um tanto de coisas que talvez não façam sentido no tempo que virá. Há
quase três anos, mais precisamente três natais eu tive um encontro inesperado
com alguém que tem a capacidade de motivar todos à sua volta para lutas que
parecem perdidas... E é por isso mesmo que luto agora acreditando que esse é um
bom momento para pôr em prática aquilo que é tão pregado.
Nesse tempo fiz um vôo de
autoconhecimento por sobre essa extensão daquilo que sou. Eu que sempre temi mergulhos
em águas desconhecidas, deixei o amar me cobrir por inteiro. Eu de fato tinha
medo do amor como tenho do mar, porque ambos podem nos inundar. Mas isso
acontece com quem deseja que as coisas sejam iguais, leves, boas e seguras para
sempre. Eu que sabia que fatalmente amaria demais, amei...
Foi nesse encontro que eu
conheci e reconheci pessoas muito especiais, com as quais eu aprendi a dividir
momentos sempre renovados. Essas pessoas tentam mander a ordem das melhores
coisas que nos traz a vida seguindo a palavra de Deus. Tão difícil palavra de
seguir. Principalmente no que diz respeito ao amor verdadeiro ao próximo.
Sei que fui abraçado por
todos, porque sou de abraçar também. Quem vive para ser melhor todos os dias e
luta para manter o mundo um lugar melhor também se reconhece e acaba por criar
uma pequena aldeia. Infelizmente alguns chegam na vida da gente e não possuem a coragem de
permanecer... Eu que não sei quanto tempo terei todos os que aprendi amar ao
alcance da minha visão, essa que é limitada e de território menor do que o do
coração e da memória, ensaio a minha partida.
Se os nossos desejos fossem o
suficiente para nos fazer ficar, eu os teria pela vida toda, afinal, eu tenho
fôlego e amor para ficar dessa forma ao lado de alguém. Porém, somos homens e
para nós vida=escolhas. E quase sempre escolhemos a incerteza, a procura, a
fuga, o abandono. Parece mais fácil jogar do que reconstruir. O que é irônico,
uma vez que pensamos ser a paz, a felicidade, o amor a principal razão de
existir. Gostaria que soubessem que acredito na capacidade de cada “sub-família”
que compõe essa grande família. Eu creio no proósito do amor, da tolerância, do
respeito, da reconstrução diária, do perdão e acima de tudo, acredito no
exercício real da partilha.
Faço um último pedido, exercitem o perdão com
total desprendimento das memórias que nos magoaram, os erros precisam ir, se
ficarem serão outro erro. Abracem ainda que a vontade seja contrária, um abraço
salva! Mas quem sou eu pra ensinar a cristãos àquilo que lhes deve ser natrural?
Nesse momento eu não posso deixar de dizer o que sinto que pode ser a salvação
de tudo o que é realmente importante para nós mortais que vivemos em coletividade
e temos que suportar uns aos outros.
As escolhas de outros muitas vezes não são as nossas e cabe aos outros que
nos perdem nos resgatarem a tempo. Complexo? Acredito que não, nós seres
falíveis nos entendemos em nossa complexidade.
Deixo um simples apelo:
nunca deixem de olhar verdadeiramente o outro, o próximo que está mais próximo
de cada um de vocês. De reconhecer o quanto ele é bom, ainda que às vezes os
tropeços aconteçam. E mesmo aquilo que chegar com textura incômoda traz amor, é
real. No fim das contas amor é um punhado de coisas boas e ruins, leves e
pesadas, mansas e revoltas. Não sei quanto tempo terei vocês ao alcance da
minha visão, não sei se o resgate chegará a tempo... Nem sei se ele chegará.
Para salvar é preciso humildade que às vezes a gente só tem em discursos e com
desconhecidos. E independentemente de qualquer seja o destino nunca esqueçam
que são as nossas escolhas que determinam o nosso amanhã e que todo dia a gente
escolha nunca perder o que realmente importa para o resto do nosso tempo.
Ewertton Nunes (em despedida)