sábado, 18 de junho de 2011

OBSERVATÓRIO DA DOR- ÁGATA - a primeira PEDRA DOS SONHOS - (PRIMEIRA PARTE)

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Eu sinto que estou crescendo, pois, torna-se mais difícil ingressar na cidade dos sonhos. Preciso encontrar uma forma definitiva de nunca esquecer daquilo que é essencial e me permite ser transportado para a dimensão mais fundamental do meu inconsciente. A noite passada adormeci com uma forte dor de dente, acho que toda troca é invasão e toda invasão nos machuca muito.


Meus dentes estão perfurando a minha pele pedindo para existir e eu tenho que suportar suas dores para poder irradiar sorrisos depois, mas adormecer em gemidos me levou à cidade dos sonhos de uma forma obscura. Sonho com dor é pesadelo... Foi a primeira vez que não pude acompanhar a sublime aparição daquele reino tão esperado por mim todos os dias. Eu simplesmente me dei conta de estar lá quando fui apanhado por uma imensa rede e arrastado para o centro da terra, cada vez mais fundo... Eu não conseguia ver nada, pois, a velocidade era tamanha, sentia apenas o meu pequeno corpo envolto numa espécie de teia.


Sentia-me estranho, algo inusitado acontecera, mas eu não tinha medo, talvez, por gostar do nada e saber que só não gosta do nada quem não entende a grandeza do vazio.
Enfim cheguei há algum lugar, não podia ver, não havia luz. Senti que a rede afrouxara como se desejasse que eu conseguisse me soltar dela sozinho, afinal, algumas amarras são somente nossas e se livrar delas é nossa responsabilidade. Consegui então sair e ousei tatear no escuro, mas era uma escuridão ainda mais sem saída do que qualquer outra que ja tenha mergulhado. O pior de andar sem o auxílio dos olhos é que precisamos dar visão há tantas outras partes nossas que ainda não dominamos.
Enfim ouvi fortes zunidos e ao longe consegui ver pequenas luzes que se aproximavam rapidamente, eram grandes libélulas iluminadas que chegavam... Começaram a dançar em círculos sobre a minha cabeça e como um indicador de caminhos começaram a traçar um percurso, eu sentia que desejavam que as seguisse, assim o fiz.
Depois de andar por algo que parecia um túnel, extremamente frio, onde se acentuava uma dor que eu não conseguia nem sentir por completo, pois, parecia nao ser oriunda dos sonhos, mas da minha realidade adormecida... Voltei a ficar inteiramente no breu, as libélulas desapareceram num sopro. Mas logo pedras negras fluorescentes, que se assemelhavam a algo que conhecia, abriam e fechavam a todo instante, iluminando e escurecendo o tempo todo aquele lugar, mas com a luminosidade suficiente para dar desenho ao que seria uma imensa caverna. Comentei em voz alta e me assustei com a inesperada resposta:
- Essas pedras parecem...
- Olhos de gato. Não existe nada mais atento à tudo do que olhos de gatos.
Montado sobre um gato vermelho surgia uma criatura encapuzada, com um cajado grande em uma das mãos, também incandescente. Eu nunca antes vira um gato tão grande, nem uma criatura tão sombria.
-Seja bem vindo, menino com olhos de poema.
- É assim que me chamam na cidade dos sonhos... Mas ainda estamos dentro dela?
- Claro, nem tudo na cidade dos sonhos tem a aparência ideal, existe outra camada oculta que todos renegam, o pesadelo, tão fundamental ao equilíbrio do inconsciente. O pesadelo não deixa de ser sonho, é apenas uma forma mais arriscada de sonhar.
- Então, estou em um pesadelo?
- Não necessariamente... Você está num estágio transitório, a dor te trouxe até aqui. Quando adormecemos com dor não se vai tão longe, nem se fica tão na superfície. Mas de qualquer forma eu tive que te resgatar. Você poderia ter passado por situações muito desagradáveis. Neste estágio de perturbação que mergulhou, você poderia se tornar um ser indesejável por aqui.
- Onde estou exatamente? E quem é você?
- Você está no “Observatório da Dor” e eu sou um “ObservaDOR”. Eu rastreio as dores mais silenciosas, a sua era de uma agudez tão incômoda que poderia despertar os Dragões dos “Piores sentimentos do Mundo”, adormecidos nas profundezas dos sonhos. Por isso trouxe você para cá o mais rápido possível.
- Aqui realmente me sinto melhor.
-Você encontra aqui o conforto temporário, até que as energias negativas emanadas pela dor se dissipem, mas precisa estar protegido dentro e fora da cidade dos sonhos se quiser regressar. No seu mundo existe muita dor.
- Sim. E as dores não são tão suportáveis como a de uma dor de dente. Dizem que algumas até são capazes de abalar estrelas.
- Temos consciência disso. Muitas estrelas já cairam por causa dos “Homens-Gente”, mas você único mensageiro capaz de transitar entre duas realidades antagonicas e complementares, não pode nunca se deixar desaparecer na dor.
- Como posso fugir dessa condição? Também sou herdeiro de pobrezas.
- Espere... Tem alguém que possui essa resposta. Sou apenas um ObservaDOR, não compete a mim a entrega de “Virtudes”.
- “Virtudes”? Não compreendo.
- Compreenderá.
O “Observador” sentou no grande gato e desapareceu em um dos flashs de escuridão. Uma grande confusão ainda agitava os meus pensamentos, novas descobertas sobre o universo dos sonhos me fazia cada vez menos compreender o que havia além do cerrar dos olhos. De repente todos os olhos de gato se fecharam e mais uma vez fiquei preso na escuridão, mas não demorou para que um “Capricórnio” reluzente aparecesse. Devolvendo uma luz de sublimação à todo aquele lugar. Tão lindo era, tratava-se de uma envelhecida cabra branca com chifres de Ouro de causar êxtase ao olhar.
- Que estranha sensação sinto quando olho para você.
- É a empatia dos que possuem alma envelhecida e os sentimentos mais nobres de um recém nascido.
- Você é...
- Sou uma projeção da sua natureza. Habito numa esfera muito resguardada do seu universo mais sensível, sou eu quem rege os teus olhos e o teu coração.
- Agora entendo o que o ObservaDOR quis dizer com “Virtudes”. Não se ofenda no que vou dizer, mas não sei afirmar serem virtudes as características que carrego em mim. Por vezes alguns impulsos da minha essência machucam muito a mim.
- Peço desculpas pelas nuances de tudo o que desperto em você. Mas sinta cada traço seu como um dom. Se te machucam as virtudes é porque possui uma capacidade curativa dos mais nobres seres.
- Por que vive aqui no "Observatório da Dor", você também é um ObservaDOR?
- Não. Eu sou um “CaçaDOR”, a minha função é neutralizar a dor, já que extinguí-la seria impossível e um erro.
- Um erro?
- Sim. A dor serve para nos alertar, ela é como a escuridão, só vamos enteder a importância da ausência quando o excesso nos invadir. E dor é excesso de sentir.
- Por isso tudo aqui é tão escuro... Eu entendo também que a escuridão nos ensina a importância de ser “adaptável”. Quando os olhos parecem se acostumar ao negro do espaço, a luz rompe tudo, nos fazendo sentir a violência necessária da adaptação.
-Exato. Essa característica maior você já carrega em si, por força daquilo que herdou de mim. Sou o teu regente e guia. Mas veja... O maior duelo que tavará, será sempre o de abrir mão de uma das duas coisas mais latentes em você.
- A razão e a emoção.
- Isso. Você sentiu o frio que amplia dores?
- Antes de entrar aqui, sim.
- Esse frio não pode ser confundindo nunca com morte. A sua maturidade precoce coloca diante dos outros, falsas impressões sobre os seus sentimentos. E o muito que existe em você se esconde, por isso, cuidado com as suas proteções excessivas, elas não podem ser nunca uma barreira intransponível que impeça acesso ao teu coração.
- Entendi... Não posso nunca deixar de sentir, ainda que a dor me ensine as defesas.
- Exatamente isso. Você é mesmo um dos meus filhos. Detentor da ancestralidade da “terra”. Tenho algo para entregar a você.
Ele levantou suas patas dianteiras e o brilho de todos os “olhos de gato” se desprenderam rumo ao centro da caverna, um redemoinho de milagre começou a se formar em minha frente, todos aqueles pontos se fundiram em uma linda pedra azul, um azul quase negro, que pousou em minhas mãos. Eu pude ver imagens dos meus antepassados adentrarem o centro da pedra, uma beleza tão indiscritível que me fez chorar sem dor alguma.
- Esta pedra é a “ÁGATA”, uma pedra secular que traz sorte e você deve levá-la junto ao peito. A primeira de uma série de preciosidades que encontrará em sua jornada. Com ela você vai ressaltar ainda mais a faculdade de distinguir entre os verdadeiros e falsos amigos. Será preciso que medite profundamente quando precisar da interferência da pedra, e ela interferirá no chakra do seu coração, te dando mais conhecimento e firmeza. As dores mais crônicas se tornarão transponíveis.
- Dessa forma eu posso me manter digno da cidade dos sonhos?
- Não existe nenhuma certeza sobre qualquer coisa que exista, essa é outra verdade que nunca pode esquecer. Para que não esqueça do que ouviu aqui, essa pedra se transformará em um gato companheiro no seu "mundo de gente", sempre que regressar à cidade dos sonhos, ele retornará à sua face de “ÁGATA”.
- Tentarei nunca esquecer a importância dessas verdades.
- Basta nunca esquecer que verdade é um caminho sem fim.


Após dizer isso, desapareceu na escuridão que tomou a caverna. Eu continuo preso nesse “Observatório da dor”, esperando a hora de poder regressar.




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Um conto para todos os capricornianos. Almas que assim como a minha possuem a sina de ter nascido com cem anos à frente.


Um comentário:

  1. "Sonho com dor é pesadelo..." gostei muito disso! Ou melhor para variar gostei de todo texto.
    Vc esta bem Senhor Saltimbanco? oO
    To achando que não... aprendi a descrever e ler as entrelinhas do sonhador.
    Espero que esteja bem.

    beijos

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