- Vira!
- Foi uma brincadeira, cara!
- E quem disse que eu não estou brincando, eu não pareço me me divertir? Cadê o sorriso rapazes? Vocês dois pareciam tão alegres! Tirem par ou ímpar pra ver quem começa a diversão? O que foi rapazes? Onde estão os corajosos machões? Tá bom... Então vamos fazer do meu jeito: une, dune, tê, salamê, minguê, o babaca escolhido foi... Você! Baixa as calças!
- Tá tirando onda?
APONTA A ARMA PARA A CABEÇA DELE.
- Não estou não! (BAIXA AS CALÇAS) Baixa logo a porra das calças! Pau pequeno, hein? Você deveria pensar muito bem antes de querer dar uma de hetero comedor... Com uma miniatura de pau dessa tá difícil fazer sucesso com as mulheres.(RI) Eu fico impressionado com vocês heteros não sabem apreciar uma boa piada! Eu não entendo como vocês não conseguem zombar de vocês mesmos quando se olham no espelho. Vamos ver se o nosso outro amigo tem mais humor... Chupa!
- Vai se fuder seu... (TIRO NO PÉ)
- Completa! Eu vou adorar dar um tipo bem na sua língua, seu cérebro de mosca! Tá gemendo? Pensei que homens de verdade não sentissem dor.
- Na boa, meu chegado... Vamos esquecer essa parada, mano?
- Olha só... Agora você é "mano" de viado? Como o medo muda as pessoas... Trogloditas viram mocinhas educadas.
- O que você quer pra deixar a gente ir embora?
- Vai depender do seu amigo... (PISA NO PÉ DO TIRO E APONTA A ARMA PARA A CABEÇA DELE) Quer ir embora? Te dou duas opções : bala na boca ou boca na pica.! Qual vai querer?(PAUSA) Isso rasteja até lá... Faz esse pauzinho crescer na sua boca porca, vai! Mostra que você sabe usá-la pra outra coisa que não seja ofender as pessoas. Viu só como não tem nada demais um homem chupar o outro? Não para! Eu digo quando estiver satisfeito. Ei, pinto de criança! Confessa que você sempre sonhou com isso, vai... Talvez não nestas circunstâncias, mas conta que você já bateu várias pensando na boca gostosa do teu mano, aí! Já chega! Ele tem cara de quem demora muito a gozar, seria preciso ficar horas aí chupando o pintinho dele e eu não sou tão cruel assim... O que ocorre é que vocês tiveram a infelicidade de serem as vozes que quebraram o cristal da minha tolerância. Pode não parecer rapazes, mas poucas são as coisas que me tiram realmente do sério, a questão é que vocês acertaram na ferida que nunca consegui sarar. (PAUSA) Uma coisa me consume por anos, desde quando eu era menino e nem sabia o que era o desejo. Todos já notavam a característica que abominam num homem, mesmo que ele ainda não tenha cosciência da sua condição "aberrante". Um dia , sem mais nem menos, meu pai me proibiu de brincar na rua, ouvi uma conversa entre ele e a minha mãe e descobri que todos comentavam: vai ser bichinha e não demora muito estará dando pra todo mundo! Passaram-se anos, e eu me tornei observador da liberdade, na condição de espectador via as crianças nas ruas a brincar... Eu não entendia que mal eu tinha feito para estar permanentemente de castigo. Mas para a infelicidade dos "homens" as coisas que não nos dão prazer também crescem! Os anos passaram, e em mim floresceu aquilo que era apenas um pequeno broto... Ninguém entendia que não se tratava de escolhas, foram necessárias muitas surras para que meu pai aceitasse o fato de nada poder fazer contra a minha natureza. Com as mãos e orgulho cansados, pendurou o cinto que tantas vezes me feriu as costas e se enforcou... Só a partir daí eu comecei a sair de casa, achava que lá fora poderia andar tranquilo... Não foi bem assim, tenho sentido todos esses anos as ruas me aprisionando, os olhares quando passo não conseguem disfarçar a repugnância... Foi preciso sair para descobrir que sou mais livre quando estou dentro de casa. Ao menos as paredes não podem gritar: Olha o viado! Não há um dia que eu não saía de casa sem ouvir isso, as rezas que faço nunca resolveram... Talvez Deus, lá de cima, também grite a mesma coisa! Quem sabe ele não use a boca dos outros para disseminar o seu preconceito. Eu sei que ninguém é obrigado a aceitar o que não é comum, mas o que não adimito, é que vocês preconceituosos, deixem o incômodo dos seus olhos chegar até mim. Hoje é o meu aniversário, e eu só queria andar tranquilo... Eu que gosto tanto de ver as árvores nas calçadas. Daí vem vocês e gritam: olha o viado! Aposto que se surpreenderam com este aqui, não foi? Não imaginavam que eu seria capaz de roubar um carro e pegar vocês onde estivessem... É que hoje é meu aniversário e eu me disse: Hoje não! Eu prometi pra mim: hoje eu estouro o cú daquele que me impedir de ser livre nas ruas. (PAUSA) O viado quer que os machos tirem a roupa! Tirem a roupa! (TIRO PARA CIMA) De quatro, anda! (TIROS)