sábado, 23 de março de 2013

ADEUS A UMA AVE SELVAGEM

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O que acontece quando se tenta aprisionar uma ave selvagem...

Que possui instintos maiores do que qualquer entendimento?

Corre-se o risco de aprisionar naturezas

Ainda que as gaiolas criadas por você sejam feitas dos melhores sentimentos
Dos mais nobres motivos...

Por detrás de toda proteção em demasia

De toda necessidade de contemplação isolada da beleza

Há a sombra de um egoísmo

Que se esconde tão bem nas frestas do amor, da dedicação...

É quase invisível o mal intrínseco em toda benevolência

O fato é que cedo ou tarde você precisa fazer uma escolha

Ou deixa que a natureza dos pássaros selvagens seja a regente do destino deles

Ou você continua aprisinando até que eles se percam, definhem no caminho ilusório do seu amor

Esse é um poema feito em despedida

As aves chegam, pousam em nosso ombro...

Encantam-nos com a sua liberdade...

Mas precisam retornar ao primitivo ancestral da sua gênese

Quero apenas que leve em seu bico esses últimos versos

Tão cheios ainda de esperanças desnecessárias

De acúmulos e viagens lindas por tuas asas

É chegado o tempo de te ver sumir no horizonte

De olhar para o céu e enxergar apenas revoadas

Porque todos os pássaros juntos são iguais

Um conjunto belo, porém, sem individualidades...

E eu amo seres vivos que me deslumbram por seu voo único

Todo último poema à memória de algo tem sempre um tom triste de partida

Quase fúnebre, doloridamente silencioso...

Os meus olhos passarão um tempo sem procurar no céu

A imagem de um momento refletido em nuvens

Sem querer nada além da paz que existe num horizonte aberto

Quem sabe um dia um pássaro qualquer pode pousar em minha janela

E sentir alegria ao me ver dormir

Nesse instante eu também sentirei o som novo de um canto

Um espanto doce de ser observado

Por quem hesita em se aproximar dos homens

E dessa vez eu não criarei gaiolas

Muito menos armadilhas para beija-flores

Deixarei apenas que venha quando a minha janela for a que melhor
A que mais se enfeita e alegra para receber visitas inesperadas...

Infelizmente, assim como os pássaros, os poetas não conseguem viver sem pouso seguro

E tão logo esse poema de despedida se encerre

Um novo tempo para as aves e os sonhos começará

E eu não mais sentirei a presença de um passado

Que me pegava pelo bico e me fazia horas feliz

Noutras horas a confusão sem controle

Tudo ficará longe... Como a ave que some...

Que fica pequena, até não ser nem mesmo um ponto nas cores de um entardecer

Para mim toda história começa e termina com palavras

Elas são a areia que jogo para cobrir o que morreu ou deve morrer

Pássaros... Passararão

Então, vou adormecer agora...

Para quem sabe amanhã ter alguma surpresa cantando na minha janela.
Uma ave que queira aproximar a sua natureza selvagem
Da minha natureza...
 
Essa que está aprendendo a respeitar... Deixar partir...
 
O que de fato nunca nos pertenceu



 

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